18 de dez. de 2008

Mesmo canal

(Ler ouvindo Beirut - Elephant Gun)

Assim, de verdade mesmo? De coração? Pode? Então, eu não gosto desse clima de fim de ano. Tem vez que chega ao ponto de ódio. É sério! Pode até ser uma coisa de momento, até pode. Mas então tenho esse momento todo fim de ano. Não gosto dessa obrigação das pessoas estarem bonitas, magras, cabelos brilhantes, olhos com sorriso e sem olhera, boca cheia de dentes, bronzeadas, felizes, bem vestidas e bem fodidas. Todas as luzes ascendem e sai do armário aquela caixa empoeirada de badulaques do natal. E ainda tem a parte dos dois quilinhos pro verão. E nada de perder os dois quilinhos e usar aquela peça de roupa da estação passada! "Não está mais usando": não consigo achar um sentido nessa frase... é inerte, sabe? De uns tempos pra cá esse fim-de-ano só serve pra lembrar-me tudo o que não fiz. Tipo um tapa na cara. Talvez seja dai a minha revolta com ele. Ter que ir à comemorações, abraçar e desejar boas coisas a parentes que nem tenho contato. E tudo isso bem ensaiado, por favor! Parece que as pessoas esquecem de todas as pendências que em suas costas pesavam. Ou acham que esquecem, dói menos assim. Já tem gente reclamando de tédio logo no início das férias, inclusive eu. Puta-que-pariu! Potenciais possibilidades são o que não faltam e mesmo assim o tédio amarra. Inclusive eu. Sabe, as vezes tenho vontade de entrar numa grande bolha e gritar. Assim, sem parar. Ficar nessa bolha sem ter um porque aparente, desligado dentro dela só ouvindo meu próprio grito. Tem um sapo na minha garganta. Na verdade não sei se é um sapo nem um nó. Dá vontade de abrí-la pra ver se consigo arrancar isso que estufa. Agora pouco descobri que atende por um nome aquilo que preciso: catarse. Não, infelizmente não é algo que de pra comprar e usar fácil assim. Preciso muito. Mas enfim, estávamos no espírito fim-de-ano: falando assim parece uma entidade, né? Talvez seja, é tão forte essa merda. Pode ser também um pouco de inveja da minha parte de ver tanta gente contente por ai. Mas não sei ao certo se chega a ser inveja mesmo. Acho que é algo parecido com asco. Tô com medo das coisas e dos vãos entre elas e não consigo definir mais. Minha angústia parece um hiperespaço meio denso e abafado. E dias de cor cinza alimentam ele.

17 de dez. de 2008

Diálogo Aleatório parte 3

Will: Pedrão, olha os novos capítulos do Pandemonio. Já estão todos feitos.
Pedrão: Tá ficando legal! Quase profissional. Olha esse aqui que da hora!
Eu: Ou, olha aqui nessa página. Lê aqui o poderzinho que a Desi tem, ó: "Eu invoco uma chinchila from hell!". UAHHAHAUA, engraçado, né?
(todos lêem o poderzinho)
Pedrão: UHAAHUHAUHA, sensacional!
(todos olham o desenho referente a uma chinchila from hell. Segundos pasmando.)
Eu: Nossa Will, uma chinchila de quatro e cabeçuda assim? Isso tá parecendo um...
Will: A gente, eu não sei desenhar uma chinchila.
Eu: Mas... nossa Will, sei lá...
Pedrão: Tá estranho.
Will: A gente, chinchila é aquela raça de cachorro lá, sabe?
Pedrão: É CHIUAUA, WILL!


11 de dez. de 2008

Diálogo Aleatório parte 2: Muri e eu

O café acaba de ser feito. Eu com a xícara na mão, Muri serve o café e bebo logo em seguida. Queimo a língua e digo:
- Minha memória recente tinindo, né?
- Isso não é memória recente, é falta de atenção.
(três segundos depois)
- Oi?

Fragmento semi-existente

- Nós somos muito diferentes.
- Quem?
- "Quem"!? O Coelinho da Páscoa e o Papai Noel. É bem deles que eu estou falando.
(silêncio)
- "Diferentes"... Pra que mais da mesma coisa de sempre? Papai Noel e Coelinho da Páscoa podem até fazer as mesma coisa mas não são as mesmas coisas. Pilhas só são pilhas e funcionam porque um lado é positivo e o outro é negativo. Não querendo comparar isso com uma pilha mas já comparando, enfim. Isso já tá ficando ridículo acho melhor...

Diálogo Aleatório: Muri e eu

- Que estranho o O.B., né? Eles têm essas ranhuras , essas voltinhas... Parece que foi feito pra rosquear lá dentro.
- Bruno, você acha que é apertadinho assim lá dentro que dá pra rosquear algo? Claro que não!
- Ah, desculpa ai Senhora-sou-larga-mesmo.
- Não é isso Bruno. O que eu estou querendo dizer é que a vagina não é tão apertadinha e pequena igual um cu, por exemplo.
- Tá! O cu? Apertadinho assim? Até parece! Você está por fora da realidade, Muri. O cu apertado: essa é boa!

10 de dez. de 2008

Silêncio da pia

Olhos grudados da sujeira de ontem.Não lembro que dia foi ontem.Não sei que dia é hoje. Tudo isso pouco importa. Aos poucos a escuridão vai tomando forma. As luzes dos carros que passam pela avenida atravessam a janela e projetam-se rápidas no teto de madeira envernizada. Perco alguns minutos olhando. Ajeito-me um pouco entre o lençol e o colchão. Ajeito calmo a cabeça que pesa em mim, que pesa no travesseiro que pesa na cama que pesa no chão. O barulho dos carros não mais me incomoda. As luzes me agradam. Trago minhas mãos aos olhos e perco minha cabeça em pensamento, que, com muito esforço, eles não passam de sombras. Isso dói. Respiro fundo sentido o ar entrar pelo nariz, inflar a barriga depois o tórax até erguer meus ombros, depois, solto bem de-va-gar fazendo o caminho inverso. Assim como um ritual. Duas, três, quatro vezes. Levanto-me lento e sento aliviado na cama. Olho pro chão e conto os tacos quebrados. Acendo um cigarro e trago fundo sentido o ar entrar pelo nariz, inflar a barriga depois o tórax até erguer meus ombros, depois solto bem de-va-gar fazendo o caminho inverso. Assim como um ritual. Sinto a cabeça estranha como se um tubo de ar entrasse por um lado de minha cabeça saisse pelo outro e voltasse a entrar, assim, entrando, entrando, entrando, saindo, saindo, saindo, voltando, voltando, voltando, rodando, rodando, rodando. Na boca o gosto de ontem: das bebidas baratas, dos tabacos fortes, dos outros, das outras, das conversas tolas... Tudo parece misturado aqui dentro de minha cabeça. Dou mais uma tragada e ando em direção a porta. Meus pés estralam, minha cabeça flutua. um vento frio bate em minhas costas e arrepia cada pêlo da minha pele nua e de carne crua. Passo pela sala que está amarelada por causa da luz da rua que pula a janela e contorna os móveis. Telefone fora do gancho, tevê sim sinal, roupa amassada sobre a poltrona. Da vitrola notas, timbres e palavras dançam lentas nessa atmosfera densa e amarela. No banheiro encho a pia com água, ajeito o cabelo com as mãos e olho fixo no olho do espelho. Respiro o mais lento que consigo. Fecho os olhos, umideço os lábios, prendo a respiração e mergulho o rosto no silêncio daquela pia com água fria. Tudo Silêncio. E dentro desse silêncio eu grito, grito, grito, grito, grito, grito, grito, grito, grito, grito, grito, grito, grito, grito, grito, grito, grito, grito...

Quase março

É... "todo carnaval tem seu fim".
Quarta-feira de cinzas: cinzas.
Do mesmo disco vire o lado,
do mesmo copo chegue ao fundo,
apague a luz e toque o último e dolorido blues.